sábado, 15 de setembro de 2007

Safra nova, velhos frutos

Tô aqui sozinho
no meio do caminho
de flores, vidas e espinhos

E é bem melhor ficar comigo
eu prefiro o abrigo
do silêncio
que o castigo
de viver com tanta falsidade
que polui essa cidade

Eu gosto tanto do vazio
de todo esse espaço
e do barulho que eu faço mastigando
comendo, com medo,
remoendo os pedaços
que eu deixei cair

E perdi, nem sei
ganhei também
um pedaço de vida
na semente que eu plantei
sem querer, quando deixei fugir
a palavra que eu nunca falei
quando deixei partir
o amor que não amei

A vida passa tão depressa
e até hoje eu peço, em prece
que a criança que adoece
e o jovem que envelhece
e o gênio que emburrece e esquece
tenham força, fé e calma
pra receber o que merecem

E eu espero que um dia
mesmo que já seja tarde
a tarde caia, sombria
e traga a alegria
de uma noite de luar
onde haverá lugar
pra todo mundo cantar,
ser amado e amar
sem sentir o gosto amargo
do sangue derramado
que eu deixei cair

E perdi, nem sei
ganhei também
um pedaço de vida
na semente que eu plantei
sem querer, quando deixei fugir
a palavra que eu nunca falei
quando deixei partir
o amor que não amei